quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Mais do mesmo?

A cidade é europeia, e muito conhecida em todo o mundo. Em especial pelas devastadoras lembranças da Segunda Grande Guerra, que, vez em quando, são reavivadas em livros e filmes. As ruas de Berlin, que ainda me são desconhecidas, estavam cheias naquela quente tarde de verão. Duas centenas de milhares de pessoas a ouvir empolgadamente alguém que discursava.

O discurso era político e proferido por um candidato à candidato. Concorria para concorrer ao cargo de presidente. Presidente da Alemanha não, mas, como gostam de dizer os americanos, da América. Um aspirante ao cargo mais importante do mundo.

Confesso minha estupefação ante ao fato, e fiquei por dias e dias a me questionar sobre como as coisas funcionam nesse mundo de meu Deus. É certo que o mundo acompanhava voto a voto a indicação dos candidatos à presidência dos Estados Unidos da América. Todavia, pensava eu, quando um pré-candidato reúne uma verdadeira multidão para um comício, em outro continente, e que essas pessoas, que não são seus eleitores, o vêem como mais novo Messias, algo de muito grave deve estar acontecendo no mundo.

Barack Obama, afro-descendente, com meio-irmãos e avó vivendo em penúria na África, era ovacionado por tão improvável audiência ariana. E como falou àquele povo sobre os muros que atrapalham a nossa existência. E como foi aplaudido.

Há apenas quarenta e cinco anos Martin Luther King era assassinado defendendo que os negros americanos fossem respeitados como seres humanos em sua plenitude. E, hoje, Obama aparece como o grande favorito nas eleições. Como o mundo pode mudar tão rapidamente, continuo insistindo e buscando respostas.

Tamanho é o poderio norte-americano que o mundo se volta a observar a escolha do novo César. E esses questionamentos me levaram a outros. Queria saber quantos presidentes, na história americana, não estiveram envolvidos em questões bélicas, seja iniciando, seja encerrando a participação em conflitos anteriores. É possível que não se encontrem muitos. Com Obama não será diferente. Eleito que seja, deverá conduzir diversos fronts de guerra, iniciados pelo antecessor, conhecido, carinhosamente, como O Senhor das Guerras.

E o primeiro negro com possibilidades de vir a comandar o maior artefato bélico mundial, declara, em seu primeiro discurso oficial, que acabará com as guerras no Iraque e no Afeganistão. Afirma que procurará energias renováveis, ajudando a salvar o meio ambiente. Oferece esperança de dias melhores ao mundo, e o mundo o segue.

Ainda temeroso quanto à falta de inteligência das unanimidades, bem como pelo surgimento de novo ciclo de salvadores da pátria, ou do mundo, no caso, confesso rondar-me certa expectativa. Confesso que, cético, estarei pronto a aplaudir a esperada mudança, com efetivo respeito aos Direitos Humanos pelos Estados Unidos da América para com o resto do mundo.

Aqui no Brasil já nos é velha conhecida a fórmula dos políticos em prometer vida melhor a todos. Com a exceção de que não existem guerras declaradas por aqui, a retórica pomposa sempre se esvazia, tornando a frustração do povo sempre atual.

Que Obama não seja mais um especialista em retórica eleitoreira, mas sim o maior líder do novo século, promovendo a paz, a liberdade e o desenvolvimento das nações, dos povos, dos indivíduos. Que a promessa de refazer o mundo não seja feita apenas de palavras vazias. Se o próximo presidente se propuser a diminuir o intervencionismo e o militarismo já teremos um grande avanço. Oxalá.