domingo, 5 de abril de 2009

Viagem transatlântica

Há sete meses tornava-se realidade um sonho de uma vida. Ao despedir-me no portão de embarque do aeroporto, não pude evitar que as lágrimas molhassem as faces dos meus, a cada longo abraço de adeus. Entre as confusas sensações de alegria e tristeza, a certeza de que a minha passagem era apenas de ida.

Há cem anos meus antenati também partiram por um sonho. Tiveram a braveza de decidir deixar a pátria mãe e embarcar rumo ao desconhecido, em longa jornada pelo Atlântico, na qual o primeiro sucesso seria desembarcar com vida do outro lado do mundo.

À partida do transatlântico, lenços brancos ao ar. Addio. Sem passagens de volta,  levaram a família em busca de uma vida melhor, para um lugar do qual apenas haviam ouvido falar. A América, afinal, era o lugar onde tudo era possível, e onde sonhos tornavam-se realidade.

Ao partir o navio, a certeza de que não mais voltariam à casa e de que as lembranças seriam apenas lembranças. A distância física, com seus riscos e custos elevados, e a falta de informações num mundo sem satélites, vivendo no interior de um Brasil agrário, afrouxaram os laços com os que ficaram para trás: primos, irmãos, pais dos quais nunca mais teriam notícias. No peito, a saudade e a lembrança, até o fim de suas vidas.

Hoje o mundo é outro, dirão, e é certo que de quando em vez me pergunto se não estou em Terra Brasilis, ao ouvir a música, as pessoas a falar no bom português, ou ao saborear um tutu à mineira. Pela internet nos falamos todos os dias e sei de (quase) tudo o que acontece por lá. Minha passagem de volta, é bem provável seja um dia comprada, assim que houver cumprido os meus desígnios, e, em verdade, posso fazê-lo quando bem me aprouver.  Entretanto, ainda que a vida do lado de cá seja serena e feliz, não ouso dizer que a saudade não aperta, e que sou grato por poder escolher.

terça-feira, 31 de março de 2009

O Brasil já foi sério?

O Brasil não é um país sério. Essa frase batida e que nunca sai de moda, ecoa diariamente na minha cabeça, a cada passada de olhos nas manchetes dos jornais. Junto a ela me vem outra frase, que, na verdade, é uma pergunta, até quando?

Na última, a Polícia Federal prendeu diretores da Camargo Corrêa por doações supostamente ilegais a vários partidos políticos. O nome do PSDB ganhou os destaques da mídia, enquanto os nossos representantes políticos defendiam a prisão dos envolvidos. Eis que alguns dias depois é revelado que do mesmo relatório foram excluídas doações realizadas ao PT, o qual, diga-se de passagem, controla a PF.

Ainda na semana passada ganhou destaque a prisão da proprietária da Daslu, condenada à 94 anos de prisão pelos mais diversos crimes. Não tive acesso à sentença, que me parece um tanto quanto exagerada. Eliana Tranchesi teria sido condenada à pena máxima em todos os crimes dos quais era acusada, sendo ré primária, com bons antecedentes… Apenas como uma comparação despretensiosa, o famigerado Maníaco do Parque fora condenado a 107 anos de prisão por estupro e atentado violento ao pudor cometido contra 11 mulheres.

De certo a decisão será revista pela instância superior e a justiça restará desacreditada aos olhos do povo que dirá: “rico não vai preso”. O que seria de maior interesse à população como um todo: a prisão da inofensiva “Daslu” por 94 anos, sustentada atrás das grades  pelo erário público, dinheiro meu e seu, ou o confisco de parte de seus bens e uma pena justa?

A abominável politização de instituições sérias, ou que assim deveriam ser, como o Poder Judiciário e a PF, colocam uma pedra no fim do túnel, apagando as últimas luzes de esperança que o brasileiro poderia ter. A esperança que venceu o medo se cansou e nem é preciso que o último a sair apague a luz. A escuridão em que vivemos é total e não há que se falar em barulho que atrapalhe o sono, pois todos escolheram ser surdos, afinal.

domingo, 29 de março de 2009

Barrichello, o anti-herói

Barrichello é o símbolo maior do anti-herói nacional. Em um país de romários, ronaldos, sennas e lulas, a modéstia certamente não é vista como uma qualidade a ser mostrada pelos que nos representam. Ao contrário, veneramos a marra, desprezamos os segundos lugares e, batendo no peito, bradamos: fulano é o cara.

O mundo esportivo já o considerava uma página dos livros da história do automobilismo, em uma carreira que, se não fora brilhante, ao menos fora a mais longa de todas. Ele, não querendo virar história, como menino, dizia querer continuar, não aceitando que o menino Bruno Senna, promessa de redenção do esporte nacional, o substituísse.

Curiosas seriam as manchetes desta segunda, houvesse sido Rubens substituído por Bruno: Estréia perfeita. DNA de campeão! E, por suas declarações, de que nada buscaria senão o título, seria jogado aos braços do povo.

Ao contrário, foi Rubinho a ir ao pódio com a tradicional cara de “me belisca”. Rubens é o sujeito que chora quando perde, e que chora quando ganha. É símbolo do esportista que nunca desiste e que compete por prazer. No Brasil,  nunca será visto como o vencedor que é, ainda que se sagre campeão.